Texto: Iara Bichara
“Tenho por intuição que para as criaturas como eu nenhuma circunstância material pode ser propícia, nenhum caso da vida ter uma solução favorável. Se já por estas razões me afasto da vida, esta contribui também para que eu me afaste. Aquelas somas de factos que, para os homens vulgares, inevitabilizariam o êxito, têm, quando me dizem respeito, um outro resultado qualquer, inesperado e adverso.”
O texto acima consta do Livro do Desassossego por Bernardo Soares. Vol.II e foi escrito por um dos maiores escritores da literatura mundial, o poeta, escritor e filósofo português Fernando Pessoa. Mesmo escrevendo como um heterônimo, ele colocou nesse trecho a sua percepção instintiva e seu pressentimento da verdade, que foram a marca de sua vida e que se consumaram com seu prematuro desaparecimento.
Parece que o coração contempla um panorama global e, por qualquer razão desconhecida, capta uma impressão que, na maioria das vezes não conseguimos expressar em forma de palavras, embora saibamos muito bem o que aquilo quer dizer.
Neurocientistas confirmaram que seis segundos antes de tomarmos uma decisão, que é um ato racional, o nosso coração desacelera os batimentos, pressentindo o que o cérebro irá processar.
Esse pré-estímulo, que o nosso corpo acusa, é gerado por uma inteligência peculiar que habita o nosso coração e que guarda a fonte dos conhecimentos mais elevados, ou que estão em contato mais próximo com o nosso eu multidimensional.
A intuição não é um privilégio daqueles que utilizam a capacidade de ouvir a voz de seu coração e acreditam nesse impulso grandioso para corrigir rotas ou para orientar metas. Ela vai além da simples abordagem no campo do sentimento, embora o coração seja um órgão sensorial.
Talvez por ser um órgão tão dinâmico, o coração é o único lugar do nosso corpo que não é atingido pelo câncer, embora possa apresentar incontáveis distúrbios, ocasionados por ausência ou por excesso de esforço, por má formação ou conformação e um número muito grande de nomenclaturas médicas que são do conhecimento dos especialistas ou dos hipocondríacos.
O que não se pode negar é o cunho didático que esse motor, pequeno em tamanho, mas gigante em competência, confere à intuição, fazendo com que ela nos mostre os caminhos mais seguros e firmes.
A literatura e a crônica diária estão repletas de exemplos de situações desfavoráveis que foram anuladas com a intervenção da intuição. Por outro lado, podemos constatar o quanto foram tristes e pesadas as criaturas que intuíram a tragédia em suas vidas e nada fizeram para que isso se modificasse, como foi o caso de Fernando Pessoa.
Conhecendo as possibilidades que o exercício do Espaço do Coração nos oferece, assim como os prodígios que podemos operar utilizando essa preciosa ferramenta, utilizo-me da famosa citação de Blaise Pascal – “O coração tem razões que a própria razão desconhece” – esperando que possamos colocar a nossa intuição a serviço do crescimento e da expansão das nossas individualizações, para contribuirmos, conscientemente, na formação de um mundo onde o Amor prevaleça.
Seja Luz!